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Janeiro 22, 2016Vintage, hipster, indie são termos que já estão no nosso vocabulário. Invadem as ruas, a moda e também a música. O alternativo prima mais do que nunca.
por Ana Ibares
Os hipsters chegaram para ficar. E mesmo as revistas de moda (masculinas e femininas) estejam tentando desterrá-los das tribus urbanas, eles se mantêm aqui porque são vintage e representam um equilibro entre o que é mainstream e o que não é.
Tem muitas caraterísticas que identificam os hipsters: a indumentária, o jeito de atuar, o tipo de comida que consomem e, como não -igual ao resto dos grupos urbanos-, o gosto pela música. Eles optam por estilos habituais dos anos 80 e 90 que foram adaptados ao século 21. Andam por aí com as barbas excelentemente arrumadas, vão tomar vinho nos bares mais antigos da cidade, inventam o brunch -uma refeição a mais entre as cinco básicas- e escutam música com estilos passados mas com sons atuais. Sentem-se inspirados pelos artistas de ontem, mas adicionando um toque diferente (mas nunca de uma forma excessivamente evidente). Mas o que eles fazem não é novidade: alguns anos atrás, os indies, os “modernos” já se passeavam no estilo dos anos 80 e usando Converse. A estética era o elemento fundamental de seu movimento e essa foi a herança que deixaram aos hipsters. Eles são a evolução natural daqueles. “Uma evolução mais sofisticada e despolitizada com aparência de glamour”, destaca Nacho Vegas no prólogo de Indies, hipsters y gafapastas de Víctor Lenore.
O movimento indie começou na década dos anos 40 quando os músicos tinham que procurar a forma de poder triunfar a través de pequenos shows em bares, criando suas próprias marcas e gravando LP’s de uma pequena quantidade de canções. A década dos anos 80 foi a explosão desta revolução musical em diferentes partes do mundo: Estados Unidos, Canadá, Irlanda, Espanha e Reino Unido -onde se originou o Brit Pop- e origem de alguns exemplos desse gênero musical, chamado alternativo pelos grupos independentes das grandes produtoras. My Bloody Valentine, The Pixies ou Sonic Youth criaram uma tendência musical na qual a experimentação e a mistura de diferentes estilos foram a chave para criar novos sons. Essas músicas pessoais, íntimas, sonhadoras e pop formam a discografia dum grupo que se encaixa com esse estilo indie e que, apesar desse caráter independente e local, conseguiu encontrar seu lugar nas listas internacionais. Estamos falando de La Casa Azul.
Em 1997 apareceram 5 músicos (3 rapazes e 2 raparigas) vestidos com roupas coloridas e com uma estética similar à família americana os Brady. Guille Milkyway criou em Barcelona um grupo fictício que cantava ao desamor com a alegria de alguém que sente borboletas no estômago.
As influências eram uma mistura entre a música disco dos anos 70, o Soul, Disco e Europop dos anos 90. As músicas falavam sobre temas simples: o amor, a amizade, a felicidade e até o desamor e a tristeza. Mas La Casa Azul não é um grupo convencional e todas as músicas tem a qualidade de ser formadas por melodias alegres, e as letras às vezes melancólicas. Eles dançavam entre balões, pulavam e sorriam mesmo que o sol não brilhasse nunca mais. “Não é um grupo como esses a que estamos acostumados com um bateria, um guitarrista… […] Aqui todo é uma coisa de fantasia, e não tens como saber o que é real e o que é mentira”. Assim é que define o criador, Guille Milkyway, a La Casa Azul. Nos anos 60, grupos como The Archies (conhecidos pela música Sugar, Sugar) apareciam como desenhos animados e, com esse mesmo conceito, Guille Milkyway criou a galera de La Casa Azul.
As letras das suas músicas revolucionaram e começaram a mostrar um matiz mais político. O grupo, porém, foi mudando junto com as composições: em “El sonido efervescente” (“O som efervescente”) de 2000 apareceram na forma de desenhos, em “Tan simple como el amor” (“Tão simples como o amor”, 2003) eles mesmos foram a imagem dos vídeos e dos shows em televisão. Foi nesse momento que Guille Milkyway começou também a mostrar o seu rosto. Com “La revolución sexual” (“A revolução sexual”) do ano 2007, o grupo de jovens adotou o role de androides às ordens de Guille nos vídeos musicais. Foi nesse momento que o líder do grupo foi perdendo a timidez que tinha lhe acompanhado previamente. O seu último trabalho “La Polinesia Meridional” (“A Polinésia Meridional”) tornou-se na representação de novos sons criados graças às tecnologias, acompanhando letras menos românticas, porém mais críticas.
Seu sucesso na Espanha foi ocasional. O grupo apareceu em shows de televisão populares; Guille Milkyway participou em festivais como Contempopránea e Benicàssim (um dos principais festivais indie do país). Também foi criador de músicas para cinema, e até ganhou o “Goya” (nome que recebem os prémios do cinema espanhol) pela composição de “Yo también” (“Eu também”) em 2010.
“La revolución sexual” trouxe a fama nacional, aparecendo em entrevistas de rádio, televisão e imprensa. Foi com essa canção que quase representou a Espanha no Festival de Eurovision.
O sucesso internacional é representativo em arquipélagos distantes. Graças à companhia Elephant Records, Guille chegou ao Japão pela primeira vez em 2004. Ali tocou no ExpoAichi 200 em Tokio. Esse foi o inicio do fenómeno de La Casa Azul em Ásia. “Em Japão não questionam se tem um grupo real por trás da galera… Eles falam da música em si mesma”. O último disco compilação “La nueva Yma Sumac. Lo que nos dejó la revolución” (“A nova Yma Sumac. O que a revolução deixou para nós”) é um exemplo da opinião positiva e do sucesso conseguido nesses países, até incluindo letras em japonês. A segunda visita em 2006 levou o músico até Coreia do Sul para uma turnê, incluindo o Festival Naini Island, o Latin Music Festival en Kyoro e na Universidade de Seul. Também, a marca cosmética DHC escolheu o single “Galletas” (“Bolachas”) para suas campanhas; e desde há alguns meses espalhou-se pela internet um vídeo de uma aula de espanhol na China em que os estudantes cantavam “La revolución sexual” para praticar a pronuncia.
La Casa Azul é um autentico grupo indie, alternativo e próprio para os novos modernos. Tentam evitar os preconceitos da música, demonstrando que “pode-se ser tecnologicamente inovador mas também sentimental” e que pode-se falar do amor, a amizade, os sistemas políticos e as catástrofes sociais de um jeito original: aportando positividade e dança.