Indies, hipsters e um compositor “dos anos 80”.
Outubro 7, 2015Michiko Koshino
Março 7, 2016441 artistas, 900 profissionais e uma seleção de espetáculos baseados no conceito visual têm protagonizado a mostra internacional da FiraTàrrega 2015.
por Ana Ibares Frías
A cidade de Tàrrega (Lleida, ESPANHA) torna-se no segundo final de semana de cada mês de setembro no lugar mais inovador e criativo das Artes Cénicas. FiraTàrrega consegue que os artistas das diferentes modalidades (teatro, circo, malabares, dança, etc.) se relacionem com os profissionais (distribuidores, produtores, criadores e diretores) e com os aficionados por três dias cheios de aplausos e expressões de surpresa.
Não conheces a FiraTàrrega? O diretor artístico dela, Jordi Durán, nos explica da seguinte forma: “A ponta do icebergue FiraTàrrega vem a significar um final de semana intenso de atividade cénica no espaço público. É um ‘shot’ de criatividade, carregado de experiências fortes e muitas chances de fazer negócios. Nosso trabalho é a promoção, o estudo e a estimulação das artes de rua”. Procedentes de diferentes lugares da Espanha e do mundo, artistas e produtores não duvidam em comparecer. Aliás, no caso das companhias de teatro, FiraTàrrega dispõe de um programa de apoio à criação artística na qual pode-se apresentar projetos criativos e dispor de ferramentas técnicas e espaços para ensaiar (laboratórios de criação e residências criativas).
28 companhias catalãs, 17 do resto da Espanha e 14 espetáculos internacionais (procedentes de países como França, Itália, Reino Unido, México, Argentina e os Estados Unidos) invadiram as ruas de Tàrrega. Houveram eventos sobre de teatro, dança, performance, circo, acrobacias, teatro de rua, cabaret, clown e áreas reservadas aos mais novos. FiraTàrrega não descarta pessoas de nenhuma idade: há diferentes opções que contentam o gosto de todos. Mas nada é o que parece e a seguir vais conhecer alguns exemplos muito surpreendentes:
Companhia Chameleon
Riccardo Meneghini e Anthony Missen conseguiram relatar conflitos pessoais e humanos graças à dança de contacto, os movimentos macios, elegantes e simples. Esses dois coreógrafos, procedentes de Manchester (Reino Unido) e membros de Chameleon, surpreenderam aos targarinos com sua subtileza, silêncio e cumplicidade mostrando os pontos fracos, as quedas do indivíduo, mas também as chances dele, sem necessidade da utilização de roupas específicas, móveis no palco e com uma subtil música. Simplesmente, a rua e eles.
Miss Dolly
companhia Marcel et ses drôles de femmes foi pela primeira vez à Espanha. O programa de FiraTàrrega define “Miss Dolly” como “um circo de uma beleza horrível”, mas “horrível” de propósito. Os quatro artistas que compõe esta companhia francesa misturaram o circo com o western e com elementos jocosos para falar sobre uma história de amor cómica e muito divertida. Espetaculares malabarismos, acrobacias aéreas e conversas breves porém hilariantes que conseguiram o aplauso mais longo da plateia. Essas quatro personagens extravagantes mastigam maçãs entre falas de filmes de Tennesse Williams e interpõe situações absurdas. Transmitiram força, humor, poesia e muita emoção, segundo a organização artística.
Leandre – Iceberg
O parque de Sant Eloi, o mais emblemático de Tàrrega, converteu-se num imenso icebergue e uma pequena ilha de pinguins cantores de ópera. A companhia de circo catalã Leandre apresentou a primeira história de amor; ela não foi aquela de Adão e e Eva, mas uma de dois desconhecidos que não falam a mesma língua mas que conseguem se comunicar perfeitamente. Graças a um show de clown (palhaços) para pessoas de qualquer idade, conseguiram encantar ao público, fazê-lo gargalhar e deixar um sorriso de felicidade e otimismo no rosto.
Dorrance Dance
“No há palavras para descrever o que eu acabo de assistir” foi um dos comentários mais repetidos após o show de claque desta companhia dos Estados Unidos. Michelle Dorrance junto com seus bailarinos deixaram todos de queixo caído no Colégio Sant Josep de Tàrrega. Junto com Nicholas Van Young e um software para melhorar o som dos sapatos, Michelle abre as portas de uma dimensão sonora muito pessoal. Música ao vivo, coreografias quase improvisadas, complexas e intensas, geraram um ambiente com magnífico nível visual e emocional. O silêncio absoluto que reinava no lugar permitiu apreciar perfeitamente o som das batidas coordenadas e o talento afastado do clássico claque que uniram o jazz, a dança e um toque de astúcia.
1 WATT
“En potencia” é uma produção internacional criada em Tàrrega especialmente para a Feira. A companhia francesa 1WATT se propõe “incomodar”, invadir e interagir correndo literalmente pelas ruas. Os seus membros levam com eles uns cartazes com palavras escritas: “cheio”, “adentro”, “onde”, “vínculo”, “fenómeno”, “nada”, “alguma coisa”, “havia”, “há” e, é claro, “potencial (en potencia)”, o nome do espetáculo, e guiam o espetador e o fazem participar da performance.
Do mesmo jeito que eles escreveram num graffiti numa parece no meio do caminho da representação, eles são a revolução na Feira: eles mostram o desequilibro, os vazios, os espaços que não percebemos… Mas criam narrações teatrais: “A primeira vez que fomos na Avenida Cataluña tivemos a sensação de estar envolvidos por forças muito poderosas. Avançamos com a sensação de que alguma coisa era oferecida a nós para ser consumida. Da onde vinha essa energia? Isso é o que queremos descobrir, equipados com cordas, megafones, pedaços de madeira e sapatos resistentes, sondar o coração e a energia de Tàrrega”.
Abast Elastic
E na FiraTàrrega tem de tudo, até uma sessão pseudoterapêutica da busca do aura e viagens extra-corpóreas. Um rapaz e uma garota (ou duas garotas, pois não explicam completamente) interagem com a plateia à procura da melhor aura. Enquanto conversam sobre a existência, eles conseguem que o público se sinta impactado e não saiba o que está assistindo, mas também não consiga para de assistir. Quando os espetadores chegaram, encontraram os mestres-de-cerimónias dançando uma coreografia pausada e que parece uma brincadeira, com uma música típica de filme romântico. Mas ninguém está salvo na FiraTàrrega , e três dos assistentes acabaram no palco para responder a umas perguntas enquanto podiam ver a própria A.U.R.A numa tela. Abast Elastic mistura dança, falas, arte visual e música.
Urban Nation
A cultura urbana sempre está presente na FiraTàrrega. Provenientes de Catalunha e do resto do mundo, os melhores coreógrafos trazem as melhores técnicas de dança. Esse ano o tema principal foi oferecido por Quim Moya, um artista visual especializado no speed painting, que mostrou o seu talento ao vivo do lado das outras performances.
O hip hop, dance e break dance adotam um significado completamente diferente após ter visto a artista estadunidense Ephrat Asherie. No seu show “For Nina”, ela homenageia a Nina Simone, cantora e ativista dos direitos civis, e a Marjory Smarth, pioneira da House Dance. Com uma grande subtileza de movimentos, Ephrat afastou-se dos prejuízos sobre o hip hop e o break, e os converteu num dos tipos de dança mais aplaudidos. O seu parceiro Ousmane Wiles também conseguiu que a plateia ficasse num silêncio solene. Dançarino nascido no Senegal, e praticando a dança desde os 6 anos, demonstrou sua grande habilidade para a dança individual e de grupo, transmitindo emoções com os movimentos, olhares e gestos.
Finalmente, o show acabou com Dani Pannullo, membro do laboratório de ideias, misturou a dança e os códigos corporais com uma coisa tão simples como uma bola de futebol.
Compañía Vero Cendoya
Quem disse que o futebol não tem o seu lugar numa feira de teatro? A companhia <Vero Cendoya> deu sua própria versão de um jogo com jogadores prontos mas bem diferentes do Cristiano, Messi, Piqué, Casillas, etc.; até sem usar a bola em algumas partes do show “La partida” (O jogo). Dois times, homens contra mulheres, e uma meta: fazer golo graças a uns passos coreográficos jamais vistos até o momento. As mulheres atacam com movimentos sensuais, próprios de uma valsa ou qualquer outra dança de salão, e os homens respondem com movimentos profissionais. O juiz, odiado por todos, foge da hostilidade fazendo um show espetacular. A performance combina a música e o esporte para apelar pela igualdade de sexos.
É claro que o sucesso da FiraTàrrega é graças à grande variedade de opções artísticas e, também, a quantidade de grupos profissionais de tantos países diferentes. “A presença de companhias em FiraTàrrega costuma apresentar um 25% do total do programa. Trazemos grupos internacionais com a intenção de oxigenar o panorama estatal. Neste sentido, meu favorito foi ‘Los cuerpos’ dos argentinos Cortez-Fontán; o voguing de Ousmane Omari Wiles; e também a nova forma de entender o tap dance dos norte-americanos Dorrance Dance”, comentou Jordi Durán.
Porém, como feira, FiraTàrrega possui um espaço profissional para produtores, distribuidores e promoção das companhias. Aliás, na última edição teve lugar o FreshStreet #1, primeiro Seminário Europeu pelo desenvolvimento das Artes Cénicas onde mais de 200 profissionais culturais da Europa estabeleceram um diagnóstico e fazer recomendações para a estruturação e evolução das Artes de Rua no continente. Mas também compareceram pessoas do mundo todo: Estados Unidos, Austrália, Coreia do Sul, Japão, Chile, Brasil, Canadá, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Irlanda, Polónia, Turquia, Estónia, Letónia, Lituânia, Portugal, Itália, França, Reino Unido, Alemanha, Eslovénia, Suécia, Hungria, Grécia e México.
O evento foi organizado conjuntamente pela FiraTàrrega e Circostrada, e tinha como objetivo analisar as questões estéticas e artísticas próprias das artes de rua. Jordi Durán nos falou das conclusões desse o primeiro e, esperamos, não o último debate: “A união nos faz sermos fortes. A Europa se compõe da parte local, a estadual e a continental; e cada canto esconde uma realidade diferente. Quando as nossas diferenças são aceitadas, podemos colaborar adicionando perspetivas e experiências para propor estratégias que beneficiem o setor”.
Tàrrega é o lugar mais privilegiado durante os três dias, e pode ser invadido pelos melhores espetáculos, a melhor música e tornar-se num lugar de destino para os fanáticos do teatro de rua. Uma cidade escondida em Lleida mas um lugar em que não exista a vergonha nem o tradicional, mas muita surpresa e vontade de chegar além do estabelecido.
E agora que nós despertamos tua curiosidade, confere o vídeo resume da última edição: