O undécimo mandamento: NÃO ESQUECERÁS!
Janeiro 18, 2019O termo “Halloween” foi usado pela primeira vez no século XVI e representa uma variação escocesa de “Todos os Santos” ou “a noite antes do Dia dos Santificados”
por Massimo Gava
Photos: Vittorio Celotti
O costume de vestir uma fantasia data da Idade Média e o “trick-or-treating” é muito similar à prática medieval do “souling”, que era quando as pessoas pobres percorriam as cidades parando em cada porta em “Hallowmas” (1 de novembro), recebendo comida em troca de uma oração pelos falecidos no Dia dos Santificados.
Mesmo que a tradição irlandesa e britânica foi transferia à América, poucos sabem que Halloween realmente tem sua origem na festividade romana de Pomola, a deusa das frutas e das sementes, e ao festival dos familiares ancestrais, Parentalia. Esta tradição tem se mantido em Itália. Até Shakespeare a mencionou em sua comédia Os dois fidalgos de Verona em 1953, quando Relâmpago acusa o seu patrão de “falar com voz triste como um pobre na festividade de Todos os Santos”.
A memoria de meus familiares ainda vivos, obviamente, não chega até o século XVII, porem eles falam das tradições dos italianos no final do século XIX, com celebrações anuais na véspera do Dia dos Santificados e que continuavam durante todo o inverno.
Muitas dessas pessoas não podiam ler nem escrever. Ir ao colégio era muito caro e era preciso manter as pessoas trabalhando a terra. Eles viviam num mundo desapiedado onde a luta para sobreviver era continua. Eles aguentavam o cansaço e o desespero de trabalhar muitas horas com escassos recursos. Era preciso, porem, algum jeito de eludir essa realidade. Então as pessoas tornaram-se expertas na hora de combater a fadiga, aprendendo e usando a imaginação para criar meios úteis em resposta.
Os invernos podiam ser incrivelmente frios e longos. Após as quatro horas da tarde, a escuridão cobria o mundo como um manto de tinta preta e assim permanecia durante dezesseis horas. Uma eternidade. Os fogos nos lares tinham a lenha suficiente só para cozinhar. Quando o jantar terminava e o fogo extinguia-se, todas as famílias que moravam juntas ao redor do mesmo pátio trasladavam-se ao estábulo, pois era o único lugar quente graças à presença dos animais. E foi aqui que o teatro mágico de Filò começou.
A historia de Filò era um cúmulo de informações, lembranças e elementos fantásticos que alimentavam a criatividade. Ele nasceu num triste e pobre mundo de sublimação e crente da fantasia, à busca da redenção, a sobrevivência e a esperança. Nesta sociedade repleta de pessoas obesas é difícil imaginar a fome que se espalhava nesse tempo. Graças às historias fantásticas contadas nesses estábulos, as noites não pareciam tão geladas e esse alimento para as mentes anestesiava, temporalmente, as necessidades do corpo.
As tradições de Filò vêm do século XVI. Ruzzante, o escritor veneziano, mencionou esta prática em suas comédias. Estes costumes também eram observados no resto do Veneto, Friuli, Lombardia, Toscana, Emilia Romagna, Abruzzi e Sicilia. Una quantidade interminável de conhecimento agrícola, rituais, cozinha, canções, historias de fadas eram transmitidos a través das gerações de forma oral.
Em cada família sempre tinha um guarda desses conhecimentos, normalmente alguém com um dom especial para contar historias. Normalmente, eram homens solitários, sensíveis e com uma grande experiência. Em troca de um lugar para dormir e comida, ofereciam sua arte durante o dia e seu talento narrativo à noite. Contavam historias daquilo que tinham testemunhado em suas viagens, doenças terríveis, guerras épicas, cataclismos, exorcismos de diabos e fantasmas.
A narração dos eventos traziam imagens mentais que iluminavam as noites para as comunidades. Nas mentes deles, a imaginação não tinha limites, e até costumavam se mover entre os estábulos à busca da melhor representação de historias.
Uma lâmpada de azeite era a única fonte de luz. Com ela, as palavras as palavras adquiriam texturas especiais além do brilho. Nas sombras, os barulhos dos animais adicionavam a atmosfera aos contos de fadas. Os sons dos trabalhos cotidianos das pessoas que compunham o público para os narradores outorgava vivacidade. Esses barulhos deram o nome a Filò, que significa “tecer com as mãos”.
Homens e mulheres, discretamente separados como nas igrejas, trabalhavam enquanto escutavam historias antigas. As crianças, sentadas e em respeitoso silêncio, aferravam-se aos sues avós, perdidos na magia dos contos de Filò, enquanto lá fora a névoa com seus tentáculos apresava o resto do mundo em sua rede.
Na noite antes do Dia dos Santificados, as diferentes regiões comemoravam seus tradicionais rituais. Em Sicilia entregavam tortas e presentes às crianças e contavam-lhes que eram trazidos pelos falecidos. Em Emilia Romagna, os pobres percorriam as vilas pedindo comida em troca de orações. Em Veneto e Friuli, pintavam abóboras e as usavam como lanternas, com uma vela que representava a ressurreição.
Men and women, discreetly separated as in church, worked as they listened to the tales of the old. The boys, sitting in respectful silence, won over the girls with furtive smiles. The girls, lowering their eyes, kept working on their canvas embroidery, so they could conceal their real feelings, certain their blushes were obscured by the half-light. But up among the rafters of the stable, it was all a fluttering of the wings of rutting Cupids.
Children clung to grandparents with their eyes and mouths open, lost in the magic of stories of the Filò, while outside the fog with its tentacles entrapped the rest of the world in its net.
É fascinante ver como essas tradições transformaram-se depois de tantos anos, pois quase não há nada restante do festival Samhain (o final do verão) da época celta. As imagens atuais de Halloween derivam de muitas fontes que abrangem fantasias nacionais, trabalhos literários e de terror, e filmes clássicos. Contudo, as tradições antigas voltaram possuindo diferentes significados. A sociedade de consumo adaptou as tradições e conceitos aos fins modernos, como fizeram os imigrantes de América talhando abóboras, acidentalmente lembrando as tradições italianas.
O mundo está evoluindo constantemente visando a uma realidade que se prevê cada vez mais insustentável. Um Filò alternativo pode estar prestes a surgir para gerações futuras… Que medo!
Esse aqui é o meu trick de Halloween.